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segunda-feira, 22 de outubro de 2012

A ~elite acadêmica~ do país e violência contra a mulher

O texto abaixo foi enviado para  Escreva Lola Escreva, não sei se vai ser publicado por lá, mas resolvi postar aqui também.... Um exercício de coragem, por que não?

PS:Se alguém se sentir ofendido com a postagem, peço para me contatar e conversar... Vamos tentar não partir para as agressões pessoais...
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Estou longe de ser uma feminista. Recuso-me a me dar este título, pois não conheço a causa feminista. Não estudei a sua história. Até alguns dias atrás não sabia nem da existência desse blog que aborda esses temas; e não consegui parar de ler desde então.

Eu acabei conhecendo este blog através de uma situação pra lá de chata – pra dizer o mínimo. Uma amiga me chama no chat do Facebook para dizer que não sabia da posição “reaça” (cic) de um conhecido em comum. Segue imagem de toda a discussão que aconteceu (as cores representam as pessoas):


Para  visualizar melhor a imagem, abrir em uma nova aba e dar zoom

Segue um resumo do que aconteceu:

1) Mestre Verde posta uma tirinha sem graça nenhuma sobre violência doméstica

2) Doutoranda Amarelinha diz que a tirinha é uma generalização e mostra sua postura contra os comentários anteriores que assumem que recorrência da violência é culpa da mulher. Em uma tentativa de mostrar outro ponto de vista ao debate, ela se expõe contando que já foi quase agredida (se não tivesse se defendido).

3) Doutoranda Rosa pergunta à primeira se depois da quase agressão sua auto estima melhorou. – vamos parar por aqui.

Nesse momento eu tive que reler algumas vezes esse comentário para acreditar no que estava lendo. E mais ainda, me convencer de que alguém tinha sido capaz de fazer um comentário desses.

[Pausa] para meu relato pessoal: Eu já fui agredida. Eu não denunciei. Contei o ocorrido para pouquíssimas pessoas. Estou escrevendo sobre isso pela primeira vez. Eu não denunciei porque achava que não ia conseguir nada. Não tinha ficado com marcas, ele disse que eu que estava errada já que estava na casa dele, enfim... Para mim o assédio moral foi muito, mas muito mais dolorido do que a dor física de alguns apertões nos meus pulsos, braços e cintura. E foi medo de mais assédio moral que me impediu de denunciar. Covardia mesmo.

Se eu contasse isso para alguém e essa pessoa me perguntasse se minha autoestima tinha melhorado, no mínimo eu ia achar que a pessoa estava fazendo uma brincadeira para quebrar a tensão. Mas não. Não foi nada disso.

Acredito que só quem sofreu sabe o quando sua autoestima vai no chinelo depois de uma situação dessas. Acho que o que eu passei não foi grave, pelo menos não fisicamente. Mas mesmo assim eu sentia nojo de mim mesma... Eu sentia sua mão apertando meus pulsos, seus braços me prendendo enquanto eu chorava e tentava escapar mesmo dias depois. Eu me culpava por estar calada. Eu me culpava por ter deixado que isso acontecesse comigo. Na verdade ainda me culpo. Se estivesse vendo a situação de fora, saberia que a mulher não teve culpa nenhuma. Eu não sei explicar o porquê, mas eu me culpo por tudo o que aconteceu. Sou vaidosa e fiquei um tempo sem pintar as unhas, passar maquiagem... Eu só queria me esconder do mundo [/Pausa].

Esse simples post no Facebook escancara um milhão de verdades e questionamentos que merecem ser discutidas individualmente. Então, com o intuído de não alongar mais ainda meu texto, vou escrever alguns pensamentos que não saem da minha mente. E talvez deixar que alguém mais qualificado fale sobre esses assuntos.

• Eu acho extremamente curioso como a agressão nunca é representada em uma linda casa no campo com personagens de classe alta. Sempre é tratado como algo marginal. Sim, que acontece às margens da sociedade. Fui agredida em uma bela casa por um ~homem~ super bem vestido e educado. Em minha opinião isso ajuda a formar a imagem que as pessoas tem de que isso acontece pouco, com gente que “deixa”. Só do meu restrito círculo de amizades, três amigas confidenciaram ter passado por uma situação parecida.

• A força policial aparece como defensora que aparece sem ser chamada e resolve na hora. Alguém já viu alguma coisa assim? Ou será que tudo depende da coragem da mulher? Não só de denunciar, mas de aguardar com medo todo o inquérito? A humilhação das perguntas, desconfianças e exame de corpo de delito? O medo de ser agredida novamente assim que o sujeito descubra a denúncia? Ou vocês acham que tudo funciona como um episódio e Law & Order SVU onde tudo acontece na hora, o sujeito é detido e a vítima recebe proteção policial? Pfffff!

• Será que as pessoas acham que a dominação financeira e emocional da mulher pelo homem acabou quando ganhamos direito ao voto? Ou será que sabem que muitas mulheres temem por seus filhos, por passar fome, por não ter onde dormir?

• A parte que mais me enoja. Sim, é isso que sinto: nojo. Uma ~mulher~ coloca a culpa da agressão doméstica na mulher. Isso é o equivalente à culpar a mulher vítima de estupro por usar saia curta. Ou apontar a mulher que decide pelo aborto por não ter apoio governamental, familiar, educacional... Ou ainda culpar a menina por ‘se deixar’ ser explorada sexualmente pelos pais. Será que SEMPRE é culpa da mulher? Independente da situação ou contexto? Esse pensamento me enoja. Como disse para minha amiga, esse é o pensamento que pessoas que acham que matar todas as pessoas que cometem algum tipo de crime resolveria o país.

• A minha amiga é tomada como radical. Eu acho lindo isso. Se todos fossem radicalmente contra a violência acho que teríamos um país muito melhor.

Termino dizendo eu não quero ofender ninguém que publicou/comentou neste post. Eu e minha amiga só resolvemos publicar (escondendo os nomes, claro) porque estávamos com dor de estômago de não poder fazer nada. Ela também não denunciou a agressão. Talvez a “coragem” de mandar nossa indignação para o Lola - mesmo os envolvidos sendo nossos conhecidos – seja um grito silencioso sobre o que sofremos e como nos sentimos quando outras pessoas passam pelo mesmo.

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